O que é ser adolescente em nosso tempo?
É um tempo de reclusão, introspecção, é um momento, um fenômeno?
É uma travessia. Uma experiência?
É uma mudança, um afastamento?
A adolescência é o período de transição entre a infância e o mundo adulto.
O jovem vive um luto pela criança que já não é mais e um intenso trabalho psíquico para compreender o novo corpo que emerge. Há também que aprender a falar em nome próprio, perceber que os pais são falíveis e criar novas possibilidades para si e para os outros.
Somam-se a esse momento as novas formas de interagir e transitar colocadas pela internet.
Para que os educadores possam atuar e entender esse tempo em que vivemos são necessárias algumas reflexões:
Habitamos dois espaços ao mesmo tempo. Estamos no mundo virtual, vivendo o mundo real, usando a mesma lógica temporal. Como é possível? Onde estamos de fato? Onde nos encontramos com nossos adolescentes? No mundo virtual, no mundo real? O mundo virtual deles é o mesmo mundo que habitamos? Conhecemos o mundo deles? Conhecemos os dois mundos?
Há uma visível mudança no comportamento em nossa sociedade, com impacto em nossa forma de conviver.
Hoje, o sujeito moderno é um sujeito da informação – sabe muitas coisas, passa seu tempo buscando informação. Mas, como transformar tal informação em experiência?
A experiência é a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, suspender o juízo, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, cultivar a arte do encontro, ter paciência e dar-se tempo e espaço.
Por ser um período de ruptura, a adolescência traz também certa introspecção e uma dose de tristeza. Nossa cultura está bastante voltada para o hedonismo, com quase nenhum espaço para o sofrimento. Numa sociedade onde felicidade é o mote, a tristeza deve sempre ser corrigida e a Ciência oferece uma gama de medicamentos para isso. Nesse cenário, a fala é fundamental para eles organizarem as ideias e sentimentos e darem significados as suas angústias e reflexões.
Muitas vezes, temos a ideia de que a adolescência é um período de total felicidade, mas há muito se passando em suas vidas e mentes. É o momento em que o jovem olha para os valores e princípios recebidos e avalia quais lhe servem realmente.
Manter um canal de comunicação claro e eficaz com os adolescentes é desafio e missão de todos os educadores. É necessário ter abertura e compreensão. Os adolescentes precisam da figura do adulto, que lhes dê segurança e zele por eles, problematizando o social. Dando a eles a palavra e deixando que falem por si. Que acolha sua fala e se esforce para compreender sua posição e sentimentos, levando a sério seus problemas e apontando novas possibilidades.
Tão importante quanto a conversa e os limites acordados é a presença. A proximidade dos educadores nesse momento traz segurança, os ajuda a escolher caminhos e a construir projetos de vida.
Não podemos perder o potencial dos jovens.
Qual é esse potencial?
O papel do jovem é inventar o novo.
Nosso mundo está acolhendo essa função do jovem, está favorecendo que ele tenha um lugar?
Educar um jovem adolescente é apresentá-lo ao mundo, mas é também apresentar o mundo a ele.
Que mundo, então, estamos apresentando para eles?
Como estamos agindo nessas transformações? Como espectadores? Estamos tendo tempo para pensar e refletir e, a partir daí, escolher como queremos agir? Estamos atuando? Estamos usando nossos recursos e saberes que construímos ao longo de nossa história?
É tempo de escolhermos que mundo queremos apresentar aos nossos jovens e nos permitirmos participar desse momento como sujeitos da experiência. E cultivar esse encontro com o novo, com o novo “jovem” que está surgindo.
“A adolescência dura apenas um tempo e o tempo é seu melhor remédio”.
Bibliografia
Texto de referência:
Sobre la experiencia – Jorge Larrosa