Os Desafios do Novo Ensino Médio

Um dos grandes temas da atualidade quando se fala em educação é a medida provisória nº 746, de 2016, com as reformas que pretendem tornar mais flexível e atual o currículo dos jovens do Ensino Médio.

Em breves palavras, a reforma propõe o aumento da carga horária, das atuais 800 horas para 1000 e daí para 1400 horas anuais em prazo não definido, a reformulação do currículo com a divisão por áreas de conhecimento e uma flexibilização que permita aos estudantes escolher algumas disciplinas mais adaptadas às tendências individuais, sem descartar o curso das obrigatórias.

É um consenso a necessidade de melhorarmos a educação brasileira, e, por isso, é latente a necessidade de reforma, especialmente no Ensino Médio, fase em que o jovem está com o pé na vida adulta e a um passo de começar a contribuir com o desenvolvimento da sociedade.

Aqui não nos referimos apenas à qualidade do ensino tradicional, da aula de Matemática, da prova de Português ou do trabalho de História. O novo Ensino Médio é mais que isso porque a educação também o é. Hoje, existe uma imensa falta de conexão entre o currículo acadêmico (que precisa ser atualizado e aprimorado) com os anseios dos jovens da sociedade contemporânea.

Uma pesquisa feita em 2016 com mais de 130 mil jovens de 13 a 21 anos de todos os estados indicou que os alunos sentem falta de atividades extraclasse, artísticas e do uso de tecnologia. A geração de hoje é basicamente digital. E se o jovem vive nesse mundo, não faz sentido a escola continuar no modo analógico.

O aluno do Ensino Médio está construindo sua identidade, está se afirmando como um jovem adulto; então, tudo o que se refere a ele, lhe interessa. Por isso, por mais que aquela aula de Física seja considerada chata ou aquele livro de Literatura seja bem tedioso, existe um desejo por maiores responsabilidades e oportunidades de fazer escolhas. Ele querer atividades práticas interativas onde possa resolver problemas, que envolvam Física, que envolvam a produção textual  e tudo mais que o rodeia.

Entre os desejos dos estudante estão as assembleias, para que possam participar de decisões que lhes dizem respeito diretamente; desejam também ter apoio de especialistas como psicólogos, na própria escola, orientação profissional e para os estudos, aulas de culinária, costura e robótica, aulas interdisciplinares, querem participar de projetos sociais mediados pelas instituições educacionais, ações para cuidados com a natureza e muito incentivo à leitura. Eles querem voz. Nós precisamos dar essa voz a eles e torná-los os protagonistas que devem ser os alunos da escola do século XXI.

Há, porém, questões mais técnicas bem importantes a serem definidas e vencidas no caminho da implantação desse novo Ensino Médio, como a estagnada proficiência em Matemática e Língua Portuguesa – muitas vezes ainda no nível básico. E o impacto da ampliação da carga horária diante da necessidade de muitos jovens que precisam trabalhar, a formação dos professores e até mesmo formas de contratação desses profissionais em um sistema de ensino modular, com possibilidade de cursos de duração variável, entre tantos outros. Como alcançaremos a coerência do currículo, a articulação entre as áreas do conhecimento, a contextualização e diversificação das trajetórias formativas ainda é motivo para amplas discussões.

Mas de modo geral, o que podemos dizer hoje, ainda neste cenário atual tão incerto, é que a escola do século XXI, que aplica o Novo Ensino Médio, precisa quebrar paradigmas mais do que necessariamente seguir a medida provisória nº 746. Antes disso, precisa ser um espaço livre e acolhedor, com mais interação e menos paredes.

 

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